O papel do Gerontólogo no mundo da longevidade

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Apesar do fenómeno do envelhecimento sociodemográfico, ao qual assistimos em todo o mundo e também em Portugal, o termo Gerontologia é, ainda, pouco conhecido. A Gerontologia, ciência que estuda o envelhecimento, surge pela necessidade de compreender a complexidade e a multidimensionalidade deste processo – a Organização Mundial de Saúde (2002) reforça a importância de compreendermos que existem alterações consideráveis no estado de saúde, nos níveis de independência, na autonomia e na participação social entre os adultos mais velhos. Desta forma, a Gerontologia é uma peça fundamental na compreensão da heterogeneidade das pessoas mais velhas, contribuindo para a definição de políticas e programas que garantam oportunidades de saúde, participação e segurança das pessoas à medida que envelhecem.

Mas qual é a relação entre a Gerontologia e o Gerontólogo?
O Gerontólogo é um profissional licenciado em Gerontologia, que atua partindo do pressuposto que cada pessoa envelhece a um ritmo diferente e que o envelhecimento, enquanto processo vital, único e individual, é perspetivado de modo muito particular por cada indivíduo. Sabe, por isso, que não se envelhece ao mesmo ritmo e que existe uma multiplicidade de fatores (biológicos, psicológicos, sociais e ambientais) que vão determinar o processo de envelhecimento de cada um e de cada uma.

A integração do Gerontólogo no mercado de trabalho tem vindo a demonstrar a mais-valia de profissionais especializados no envelhecimento e nos seus desafios impostos. Para descrever o seu papel, é necessário ter em consideração que a sua intervenção deve ser integrada na complexidade do processo de envelhecimento. E, por isso, identificamos três objetivos de intervenção: (i) apoiar da pessoa no seu todo, com uma visão holística do envelhecimento, (ii) contribuir para a humanização da prestação de cuidados aos adultos mais velhos e (iii) contribuir para uma mudança de paradigma sobre o processo de envelhecimento.

A integração do Gerontólogo no mercado de trabalho tem vindo a demonstrar a mais-valia de profissionais especializados no envelhecimento e nos seus desafios impostos.

A Association for Gerontology in Higher Education (AGHE, 2014) define o gerontólogo como o profissional que contribui para a melhoria da qualidade de vida e promoção do bem-estar das pessoas à medida que envelhecem, nos contextos familiares, da comunidade e sociedade, através da investigação, educação e aplicação de conhecimento interdisciplinar do processo de envelhecimento e das populações envelhecidas.

É importante compreender que o perfil profissional do Gerontólogo é complexo, destacando-se o caráter multidisciplinar do seu conhecimento e, consequentemente, a sua prática interdisciplinar, pressupondo um trabalho realizado em complementaridade com os restantes profissionais, não substituindo qualquer classe ou prática profissional. Por isso, em 2017, a Associação Nacional de Gerontólogos, em conjunto com as Instituições de Ensino Superior que detém oferta formativa de licenciatura em Gerontologia, propôs uma organização das competências do Gerontólogo em três perfis profissionais – gestor de caso, prestador de serviços, empreendedorismo e consultor.

Como gestor de caso, o Gerontólogo tem a capacidade para coordenar os diferentes serviços que apoiam as pessoas idosas, bem como as suas famílias, para identificar e assegurar uma efetiva administração de serviços, de acordo com as suas necessidades.

Enquanto prestador de serviços e empreendedorismo, providencia serviços para a pessoa idosa individualmente, bem como para grupos, com base no conhecimento multidisciplinar que detém acerca do processo de envelhecimento. Ao (re)conhecer a realidade subjacente à sua atuação profissional, é capaz de antecipar futuras necessidades e implementar soluções inovadoras no âmbito dos serviços para a população mais velha.

Finalmente, como consultor, este profissional avalia as necessidades, numa determinada esfera, no sentido de contribuir para o planeamento de intervenções que correspondam à resolução dessas necessidades.

O Gerontólogo desenvolve, assim, intervenções, programas e projetos em vários contextos, nomeadamente organizações sociais ou privadas, autarquias locais e serviços públicos da Segurança Social; Estruturas de Saúde no âmbito de programas de prevenção, de educação para a saúde e de prestação de cuidados primários; Unidades de Cuidados Continuados Integrados; Unidades de Cuidados Paliativos e Unidades Hospitalares. Através da sua prática, o Gerontólogo contribui para que o processo de envelhecimento seja planeado, orientado e bem assistido. Através das suas competências e formação, saberá determinar que profissionais mobilizar, quando e em que condições, dinamizando a rede de relações com profissionais, serviços e recursos da comunidade, de forma a otimizar e solucionar de forma rápida e eficaz os problemas, dificuldades e necessidades que possam surgir num determinado momento. Possui competências específicas que permitem atuar em diversas áreas, nomeadamente na intervenção comunitária através da implementação de projetos em prol do “ageing in place” (envelhecimento em casa e na comunidade); gestão de organizações, serviços e recursos sociais gerontológicos e ao nível da formação e consultoria dirigida a instituições, empresas e profissionais que atuam na área do envelhecimento.

Através da sua prática, o Gerontólogo contribui para que o processo de envelhecimento seja planeado, orientado e bem assistido. Através das suas competências e formação, saberá determinar que profissionais mobilizar, quando e em que condições...

Pistas para o Futuro

Sendo uma profissão que está no mercado de trabalho (apenas?) desde 2007, temos vindo a assistir a um crescimento da prática gerontológica e da construção da identidade profissional do Gerontólogo. Se o contexto institucional tem sido, até então, o contexto com maior expressão em termos de empregabilidade, reconhecemos que uma intervenção a partir (e para a) da comunidade é essencial quando pensamos no envelhecimento das próximas gerações. Por isso, consideramos que uma das pistas para o futuro assenta na consulta gerontológica: é um tipo de intervenção que tem vindo a ganhar cada vez mais expressão e que tem demonstrado que o conhecimento do Gerontólogo é inovador e diferenciador. A consulta gerontológica é desenvolvida pelos Gerontólogos e destinada aos adultos mais velhos, tendo como objetivo uma mudança de paradigma sobre o processo de envelhecimento, através de uma visão holística e global da pessoa. Através de uma avaliação multidimensional, o Gerontólogo identifica necessidades, potencialidades, gostos e interesses e elabora um plano de intervenção de modo a facilitar o crescimento e desenvolvimento pessoal, aumentar a compreensão do cliente sobre si mesmo, eliminar ou mitigar sentimentos de angústia, aumentar a autoestima e potencializar a abertura para experiências novas. Esta consulta pretende detetar sinais de alerta/risco físicos, psicológicos, cognitivos e sociais, e definir estratégias com a pessoa para viver de forma mais ativa e saudável.

A integração de Gerontólogos no mercado de trabalho, principalmente em estruturas da sociedade (comunidade ou respostas sociais) direcionadas à população mais velha, traz consigo benefícios, tanto para o indivíduo que envelhece, como também para o próprio funcionamento das instituições de apoio social e de saúde. Desta forma, trabalhar o conhecimento da Gerontologia, levá-lo a um número cada vez maior de profissionais, divulgar diretrizes e conceitos do envelhecimento representam tarefas urgentes e necessárias num país envelhecido. Os Gerontólogos já abraçaram este desafio: mas precisamos de todos para que envelhecer com dignidade, de forma ativa e saudável seja uma realidade de todos e em todos.

Associação Nacional de Gerontólogo.